sábado, 23 de abril de 2011

O Dia em que JK fez os Japoneses Chorar :

Painel em Comemoração ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil

Quando viram de pertinho um membro da dinastia imperial japonesa, naquele improvável sertão goiano, sobre uma poeira impregnante, quando viram aquela cena absolutamente inacreditável, os japoneses emudeceram e choraram.

UM PRÍNCIPE NO CERRADO

Presidente Juscelino Kubitschek

"...Brasília surgia de debaixo do chão, poeira vermelha subindo até os céus, espessa, vistosa, indisciplinada..."

O ano de 1957 foi o ano do "furacão de buracos", nas palavras do engenheiro Bernardo Sayão. Brasília surgia de debaixo do chão, poeira vermelha subindo até os céus, espessa, vistosa, indisciplinada. Mas não havia somente a revolução dos tratores e das escavações.

Um outro movimento subterrâneo dava início a uma outra Brasília. A das hortaliças, dos legumes, da produção agrícola que começaria a alimentar os habitantes da nova cidade. Ernesto Silva, em seu História de Brasília, registrou o começo desse furacão de ponta-cabeça: 7 de agosto de 1957, quando se instalou na cidade o primeiro núcleo da colônia japonesa.
Israel Pinheiro, o responsável pela obras de Brasília, teve a idéia de estimular a migração japonesa para Brasília e assim garantir a produção agrícola. A lenda diz que, quando alguém estranhou a aridez das terras, Pinheiro comentou: "Se fossem boas, não era preciso trazer os japoneses". Eles vieram e se instalaram à margem do Riacho Fundo, terra mais úmida. Plantaram e colheram, mas quase não havia quem comprasse. Os candangos, a maioria nordestinos, não gostavam de legumes e verduras. Alface e tomate não enchem barriga de peão de obra.

Mas os japoneses continuaram a ocupar as áreas rurais mais propícias à agricultura. Era 1958 quando um grupo deles teve uma surpresa inimaginável para o povo japonês. O príncipe Mikasa, irmão do imperador Hiroito, tinha vindo ao Brasil para participar das comemorações do cinqüentenário da migração japonesa. Como fazia com toda celebridade política que visitava o país, Juscelino trouxe-o para conhecer a construção de Brasília.

Depois de um almoço oferecido ao príncipe no Palácio da Alvorada, Juscelino quis levá-lo para visitar a colônia japonesa (que a essa altura já esperava o príncipe numa área descoberta sob uma árvore decorada com balões e lanternas coloridas). O embaixador do Japão no Brasil cortou o barato. Explicou que um membro da família imperial jamais poderia se misturar à gente do povo. Intocável tradição milenar.

Juscelino fez que obedeceu e chamou o príncipe para um "ligeiro passeio", como contou em Por que construí Brasília. O presidente entrou no carro com Mikasa, então um jovem de 21 anos, e mandou que Geraldo Ribeiro, o motorista, tocasse rapidamente para o local onde os japoneses esperavam o príncipe. Havia centenas deles. Quando viram de pertinho um membro da dinastia imperial japonesa, naquele improvável sertão goiano, sobre uma poeira impregnante, quando viram aquela cena absolutamente inacreditável, os japoneses emudeceram. Silêncio total, paralisia completa. Até que Juscelino fez o que mais sabia fazer: quebrou a sisudez do ambiente e disse que, contra o protocolo "obsoleto", o príncipe Mikasa estava ali, de corpo e alma, para lhes trazer a saudação do imperador Hiroito. Os japoneses choraram.

Não se tem notícia de que o príncipe tenha recebido algum castigo por ter deixado Juscelino quebrar as rígidas normas da dinastia nipônica...

Conceição Freitas, em Crônica da Cidade, no Correio Braziliense, edição de 09 de agosto de 2007.

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