São imagens que tão cedo não vão sumir da paisagem e nem da memória de quem viu bem de perto a fúria da natureza.
- As informações são do site do Fantástico no Portal G1,
Reportagem de Roberto Kovalick.
Era para ser o registro de um passeio de carro em um dia qualquer, mas a câmera instalada no painel gravou o instante em que a terra tremeu, no dia 11 de março de 2011, às 14h46 (horário do Japão). Parecia só um susto, mas o pior veio em seguida: o tsunami.
O vídeo mostra o momento em que ele surge na esquina de uma avenida. Em dez segundos, a água aparece embaixo do carro. O volume de água aumenta rapidamente. O carro se choca com outro veículo. O motorista força o vidro para sair. Pouco depois, ele aparece no teto.
A enxurrada fica mais forte. A correnteza arrasta tudo o que encontra pelo caminho. A imagem não mostra, mas o motorista consegue se salvar e deixa a câmera ligada até que o carro bate em um prédio, afunda e a gravação para.
Outras imagens mostram a chegada da grande onda a um bairro residencial. A imagem é impressionante. A destruição avança e os moradores correm em desespero. O rapaz que está filmando vai para o alto de um prédio. De lá, registra a cidade sendo engolida.
O Fantástico descobriu que cidade é essa. O nome é Kamaishi, no litoral nordeste do Japão, a 440 quilômetros de Tóquio – justamente a cidade que tinha construído um dos maiores escudos contra tsunami do planeta, segundo o livro dos recordes. Do alto da montanha, dá para ver o que restou da barreira de proteção, que media 63 metros de altura. O quebra-mar, inaugurado há três anos, levou 30 para ficar pronto e poucos segundos para ser destruído.
A cidade já está com as ruas limpas, mas o trabalho para juntar as pilhas gigantescas de entulho é intenso. Kamaishi está vazia. Os prédios e casas da área atingida ainda estão muito longe de receber de volta quem vivia na cidade.
Alguns problemas ainda não foram resolvidos, porque simplesmente são grandes demais. É o caso do trânsito em uma rua, que está parcialmente interrompido por um navio. O cargueiro “Sinfonia da Ásia” está encalhado desde o dia do tsunami e ninguém sabe como tirá-lo. A embarcação terá de ser içada, mas não há previsão de quando isso vai ser feito.
O Fantástico localizou a região onde foram feitas as imagens. A rua fica em frente à prefeitura, um dos poucos prédios que restaram intactos. O rapaz que fez as imagens era filho do dono de uma loja de equipamentos eletrônicos, que ficava onde hoje estão alguns carros. A casa da família ficava nos fundos. Todos sobreviveram, mas ninguém sabe onde estão abrigados. A loja ficava bem perto da prefeitura. Nas imagens, ela não aparece, mas é possível identificar seu letreiro.
E o que teria acontecido a um senhor? Escapou a tempo? Ninguém sabe. Mamoru Yamada é diretor do departamento de prevenção de acidentes de Kamaishi. Ele estava no prédio da prefeitura no dia do tsunami. “Algumas pessoas que eu conhecia da rua estão mortas”, conta Mamoru.
Na cidade, morreram mais 800 pessoas e mais de 300 estão desaparecidas até hoje. O número de vítimas poderia ter sido ainda maior se não fossem os altofalantes espalhados no alto da prefeitura e pela cidade. “Logo depois do terremoto, começamos a avisar: está vindo um tsunami, fujam para lugares altos”, diz Mamoru Yamada.
Aas placas espalhadas pela cidade indicam o local onde procurar abrigo. Ao todo, dez mil pessoas perderam suas casas. Isso representa um quarto dos moradores. Seiscentos permanecem alojados em abrigos.
Um casal era dono de um restaurante. Eles também perderam a casa onde moravam. Hoje trabalham em um trailer doado pela prefeitura, a poucos metros do antigo endereço. A esposa assiste às imagens daquele 11 de março. “Aquele era o meu carro. Até hoje ninguém sabe onde ele foi parar”, diz ela. “Mas temos energia e vamos nos levantar”, afirmam eles.
O programa de reconstrução de Kamaishi começa em setembro e deve demorar dez anos. São imagens que tão cedo não vão sumir da paisagem e nem da memória de quem viu bem de perto a fúria da natureza.
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