domingo, 19 de junho de 2011

Brasileiro de 160 kg bate recorde no sumô japonês, usa Cristo Redentor e vira ídolo

Brasileiro Ricardo Sugano (esq.) brilha e leva marcas do Brasil ao sumô japonês
Bruno Freitas

Em São Paulo, UOL Esportes

        Existe um corpo estranho na elite do sumô japonês na atualidade. Ele pesa 160 kg, mede 1,94 m e, acreditem, é brasileiro. Trata-se de Ricardo Sugano, 24 anos, jovem estrangeiro que acaba de bater um recorde histórico na mais importante categoria da modalidade nipônica e que desponta como ídolo do popular esporte nipônico.

      Há cinco anos no Japão na batalha na carreira no sumô, o paulista Ricardo conseguiu ingressar neste ano na seletíssima categoria Makuuchi, a mais nobre das seis que compõem este esporte no Japão. Apenas cerca de 40 lutadores, ou sumotoris, disputam esta faixa principal. Eles têm suas lutas transmitidas pela TV japonesa e embolsam salários que podem chegar a US$ 28 mil mensais, tirando as premiações.

      Na companhia de Sugano na elite, para todo o fanático público japonês ver, uma identificação do lutador com o seu país de origem. Ricardo usa um kesshou mawashi, espécie de cinto para o cerimonial pré-luta, com a imagem do Cristo Redentor e com a bandeira do Brasil. No dohyo (espaço de combate), poucos sabem seu nome real, pois se apresenta com o codinome de Kaisei Ichiro.
"Ele igualou um recorde que há 30 anos ninguém conseguia nessa categoria. Está dando muitas entrevistas por lá", conta orgulhoso Itiro Sugano, pai do lutador brasileiro.

      Antes de Sugano, outros quatro brasileiros chegaram à quinta categoria na hierarquia do sumô japonês, a segunda em importância. Sendo assim, os antecessores não conseguiram o feito que Ricardo acaba de comemorar. Em seu ano de estreia na elite, o paulista igualou o recorde de 30 anos exaltado por seu pai, com nove vitórias seguidas. Mais recentemente, Kaisei Ichiro fechou um ciclo de disputas com balanço de dez triunfos e cinco derrotas e foi homenageado com o prêmio “espírito de lutador”.

      Atualmente, cerca de 10% dos lutadores entre as seis categorias do sumô japonês são estrangeiros, mas poucos têm chamado tanta atenção quanto Ricardo. Em 2008, ainda em etapa inicial dentro da hierarquia do esporte, o brasileiro e sua batalha foram tema de um documentário da Fuji TV, uma das principais do Japão.

       Sugano chegou ao Japão dois anos antes disso, com um repertório de poucas palavras conhecidas na língua japonesa, mas muita vontade de aprender. Campeão novato no Brasil, ele teve a chance de ingressar na famosa academia Tomozuna Beya, em Tóquio, na escola que propagandeia formar lutadores desde 1757.

Lutador exibe seu cinto de cerimônia com a
imagem do Cristo Redentor e a bandeira do Brasil
       No começo, como novato que se preza, Ricardo teve que passar por uma série de sacrifícios. Como quase tudo na cultura japonesa, o funcionamento da academia prevê devoção silenciosa aos integrantes mais velhos, em troca de recebimento de aprendizado. O brasileiro entrou na Tomozuna Beya ajudando nas tarefas de limpeza e cozinha. Na hora do almoço, precisava ficar de pé ao lado da mesa esperando os veteranos terminarem a refeição, sempre atento para repor o arroz das tigelas assim que elas se esvaziassem.

       "Ele sofreu bastante no começo, não sabia falar nada em japonês, mas teve um outro brasileiro da mesma academia que ajudou bastante", relata o pai de Ricardo, em referência ao paraense Eiji Nagahama.

      Mas a escalada até a categoria principal conferiu ao brasileiro uma série de novos privilégios. Tradicionalmente, os integrantes da faixa de elite podem, entre outras coisas, lançar sal na arena antes dos combates e vestir quimonos mais grossos durante o frio do inverno.

      Para quem vê de fora com olhares pouco respeitosos, o sumô pode ser descrito como um festival de trombadas entre dois gordões usando uma espécie de fralda. Mas existe muito mais conteúdo nesta antiga modalidade japonesa do que uma mera interpretação superficial possa imaginar.

      Alega-se que o esporte tem cerca de 2 mil anos de existência e nasceu como parte dos ritos xintoístas, espiritualidade típica japonesa. A devoção do público é das mais fervorosas, com traços de religiosidade. Quem consegue a denominação de Yokozuna, campeão supremo, mais alto grau na diferenciação entre os lutadores, é tratado com status de divindade.

      A plateia dos combates da categoria principal costuma ser das mais heterogêneas, mesclando vários tipos de fãs, de senhoras de quimono a membros da máfia Yakuza, que recentemente tiveram descoberta estratégia de usar as posições nas primeiras filas para enviar mensagens aos comparsas através das transmissões de TV.


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TRADIÇÕES PRINCIPAIS


AOS INICIANTES

É preciso ter no mínimo 1,73 m, 75 kg e ensino fundamental completo

ENSINO OBRIGATÓRIO

História do sumo, filosofia esportiva, poesia e caligrafia

COMIDA DOS GIGANTES

Duas grandes refeições por dia, geralmente um cozido de carne e legumes, e média de 5 mil calorias diárias

FORMATO DE DISPUTA

Seis torneios por ano, três em Tóquio, um em Osaka, um em Fukuoka e outro em Nagoya. Cada um tem duração de 15 dias

GLOSSÁRIO BÁSICO DO SUMÔ


Sumotori: lutador
Yokozuna: campeão supremo
Dohyo: arena de luta
Kesshou mawashi: cinto de luta para cerimônia
Shio-barai: arremesso de sal na arena
Rei: cumprimento formal entre os adversários
Kimaritê: golpe decisivo

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