TV Globo encontrou única japonesa viva das cinco famílias que imigraram em 1957. Hoje, DF tem 2.200 famílias de descendentes japoneses, metade trabalhando na lavoura.
Fumiko Kanegae, única japonesa viva das cinco famílias que imigraram em 1957 para Brasília (Foto: DFTV/Reprodução) |
Há 48 anos, enfrentar o cerrado não era nada poético; exigia muita coragem. Era preciso acreditar. Era preciso usar terras para plantar. Atualmente, Brasília mostra que tem vocação agrícola. A cidade era obrigada a importar tudo o que consumia. Mas hoje em dia, já é auto-suficiente na parte de hortaliças, e até exporta. Graças a um cinturão verde que começou com bastante luta, em plena construção da cidade.
Equipe do DFTV, da TV Globo, encontrou a única imigrante japonesa viva das cinco primeiras famílias que chegou à cidade para trabalhar na terra árida do cerrado.
Quem olha para a produtora agrícola Fumiko Kanegae, nem se dá conta do tanto que ela já teve de trabalhar na vida. Tanto, que aos 88 anos, a simpática senhora não consegue largar a rotina. “Quase todos os japoneses trabalham muito, não tem preguiça”, diz Fumiko.
Ela ainda era criança quando o destino tratou de trazê-la do outro lado do mundo. Ao deixar o Japão para trás, Fumiko morou em São Paulo, Goiás até parar no meio do nada. A família Kanegae foi uma das primeiras a chegar ao Distrito Federal. Era 1957 e a nova capital do país – Brasília – estava sendo construída. Mas, havia um problema: a terra do cerrado era difícil de cultivar. Nada do que se plantava ia para frente. E o que era consumido tinha que vir de fora.
Foi quando a equipe do presidente Juscelino Kubitschek teve a idéia de importar as famílias de japoneses e seus descendentes para produzir em Brasília. As cinco primeiras vieram de Goiânia. Kanegae, Hayakawa, Ogawa e Ikeda e Okudi, à convite do então diretor da Novacap, Israel Pinheiro. O fato rendeu uma passagem pitoresca, contada por historiadores e mostrada em 2006 na minissérie JK, da Rede Globo. Assim que chegaram a Brasília deram logo o parecer: “A terra é muito ruim”. Israel Pinheiro retrucou: “Uai, se a terra fosse boa não precisava de japonês”.
“A primeira colheita que fizemos nós levamos para o presidente Juscelino. Ele disse: 'Ai que coisa boa!' Ele me chamava de 'mãe japonesa'”, revela Fumiko. As novas remessas de japoneses vieram de Belém, São Paulo, e enquanto isso a família Kanegae crescia. Heitor Kanegae foi o primeiro Nissei filho de japoneses a nascer em solo candango. O padrinho foi ninguém menos que o então presidente da República.
Juscelino Kubitschek batizou o Heitor. Fiquei contente e pensando: Nossa, o presidente!”, conta Fumiko, mãe de Heitor. Os Kanegae e outras 2.200 famílias de japoneses e descendentes moram, atualmente, na capital federal. Metade deles ainda vive do campo. Só a chácara de Fumiko produz, todos os dias, cerca de uma tonelada de hortaliças.
“Brasília, que antes não conseguia nem produzir para a própria população, hoje tem essa grande produção”, afirma o auxiliar técnico Jurandir Carrijo. Graças a persistência da raça de olhos puxados, o pó do cerrado deu lugar à fartura. “Sinto muito orgulho de ter sido um dos pioneiros”, afirma Heitor Kanegae.
“Estou tão feliz. Está tudo limpo, tudo plantado. Eu agradeço todos os dias. Pra mim não precisa de mais nada”, comenta Fumiko. De acordo com a Federação das Associações Nipo-Brasileiras do Centro-Oeste, as principais colônias estão no Riacho Fundo, Incra e Vargem Bonita. Mas há também japoneses nas áreas rurais de Taguatinga e Planaltina.
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