Saiba como fazer um oshibana e aproveitá-lo para decorar ambientes
Exposição dos quadros produzidos pela professora Alice Imai: adaptação dos materiais para o Brasil |
Quem nunca colocou pétalas de rosa ou uma simples folha entre as páginas de um livro? Não importa o motivo: curiosidade ou para guardar a lembrança de uma ocasião especial, muitas pessoas já fizeram um oshibana (do verbo osu empurrar/prensar e bana, flor), a arte das flores prensadas.
Nascido por pura necessidade científica - herboristas italianos enviam cartas recheadas com plantas para trocas de informações - o oshibana carregava uma certa aura de nostalgia. Mas atualmente ganhou um status na decoração: pode ser usado para enfeitar ambientes, objetos (chaveiros, tampa de caixa de chá) e até em quadros.
E foi um quadro, em uma agência dos correios do Japão, que despertou o interesse de Alice Imai, em 1996, quando tinha 58 anos. Até então, nunca ouvira falar sobre a arte das flores prensadas. A beleza das flores, que mesmo secas conservavam brilho e cores, motivou a brasileira a buscar mais informações e cursos. Entusiasmada, Alice fez cursos básicos e especializações com a professora Yumiko Kotaka. De volta ao Brasil em 1999, resolveu definitivamente entregar-se à arte.
Antes de começar a lecionar, ela mergulhou em pesquisas para encontrar instrumentos e materiais que pudessem substituir os utilizados no arquipélago, como pinças bico de pato e envelopes plásticos especiais. Em um agradável sobrado instalado na Praça da Árvore, Alice divide há cinco anos, seus conhecimentos entre suas alunas. De olhos atentos, as jovens senhoras prestam atenção na professora e rapidamente aplicam as técnicas em delicadas orquídeas. Simpáticas, compartilham o que sabem, ajudam uma a outra, e conversam animadamente entre xícaras de café e deliciosas guloseimas.
Alice revela que futuramente pretende ensinar oshibana em orfanatos ou asilos. Por enquanto produz quadros - “as flores duram mais, pois fazemos a vácuo, e o vidro protege bem contra a ação de fungos” -, marcadores de página, e ainda divide-se entre aulas e encomendas. Uma novidade que passou a oferecer é transformar buquês de noivas em oshibana. “O processo é demorado, dura cerca de dois, a três meses, para preparar um buquê inteiro”. A universalização já começou. O reconhecimento de Alice já ultrapassou fronteiras. Ela emoldurou um buquê para uma noiva radicada no Canadá.
História
As flores prensadas surgiram no século 16, quando médicos e herboristas italianos trocavam correspondências recheadas com plantas, para estudos e observações. O oshibana só galgou o status de arte no século seguinte, quando senhoras da nobreza inglesa encapavam suas bíblias e ostentavam, com orgulho, o livro sagrado ornado com flores prensadas pelas igrejas da Inglaterra.
O clima úmido contribuiu para que o Japão progredisse nas técnicas de oshibana. Foi lá que Nobuo Sugino, criado em meio a uma família de botânicos, desenvolveu o método que preserva por mais tempo o brilho e cor das flores, livrando-se do amarelado promovido pela ação de fungos.
Hoje, além do caráter didático e de decorar ambientes, quadros, caixa de chá, guardanapos, pratos, entre outros objetos, o oshibana também é utilizado como terapia para muitas pessoas que apreciam flores.
Faça seu oshibana em casa
A professora de oshibana Alice Imai |
- Escolha um flor ou folha (a dica da professora é usar uma hortênsia ou pétalas de rosa)
- Pegue uma lista telefônica e deixa-a aberta por 2h, sob sol forte para secar bem as páginas
- Coloque em um saco plástico para não pegar umidade e deixe esfriar
- Abra a lista, coloque um lenço de papel de um lado, acomode as flores, cubra com outro lenço de papel e feche a lista
- Repita o procedimento a cada 50 páginas aproximadamente
- Coloque a lista dentro do saco plástico
- No dia seguinte troque por outra lista telefônica seca
- Deixe as pétalas por cerca de 7 dias, e mantenha a lista dentro de um saco plástico
- Guarde as pétalas em um saco plástico zip, e este dentro de uma lata vazia de biscoitos. Mantenha a lata vedada, e abra apenas quando for usar as pétalas
Fotos: Caio Kenji
Esta reportagem foi publicada originalmente na revista Made in Japan 136, de janeiro de 2009
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